Histórias do Luan

O drama da vida real, Vergonhas, momentos bons, ruins e algumas bobeiras.

A massa do Vidro

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Do mais nerd, ao mais preguiçoso, matar aula é um fato memorável na vida de qualquer aluno, ainda mais quando para coisas proibidas como jogar video-game e comer pão com mortadela. Juntar alguns amigos com zueiras sem limites, era a receita pra quebrar alguma coisa da casa…

O melhor da escola são os amigos, pode ser na escola pública do bairro ou em Harvard, o que é mais da hora da vida são sempre as zueiras infinitas. Em nosso caso, já estávamos saturados do conteúdo da escola, entediados com a rotina e o ritmo das horas que teimava em não passar nunca.

Caminhávamos em direção da escola, numa fria manhã de segunda-feira e como em todo grupo de amigos, sempre surge aquela idéia genial: matar aula em nome da zueira. Sempre fomos tão dedicados às aulas, porque não poderíamos ao menos um dia sacrificar a aula para a diversão? no nosso caso, não era para fazer nenhum ato ilícito, apenas jogar um bom guitar hero com o volume no máximo, e comer algumas bobeiras como pão com queijo e mortadela e refrigerante.

Queríamos apenas a sensação de liberdade, e fugir um pouco da chatisse do mundo. Afinal era apenas um dia mas que foi memorável, talvez não pelo fato em si, mas a essência de ser feliz na espontâneidade de nossa juventudade.

(Luan vida e obra, 2079)

Assim como todos os estudantes, tínhamos sérios problemas financeiros, para se ter idéia, a classe alta do grupo tinha uns 2 chicletes, 50 centavos, um clipes e um par de chaves. Exageiro, não chegava a tanto, mas por incrível que pareça nesse dia, conseguimos juntar a fenomenal quantia de 25 fucking reais, éramos quase o Eike Batista no ápice de sua empresa.

Pela primeira vez na vida, teríamos a oportunidade de comer fartamente o tão sonhado pão quente com frios e alguns sucos, refrigerantes, salgadinhos e etc.

Como tudo na vida tende ao caos, não tinha outra alternatica, tinha que acontecer alguma merda.

Estávamos na sala reunidos para decidir a divisão do dinheiro na compra dos alimentos, enquanto outro jogava videogame e outros dois resolveram brincar de jiu-jitsu no meio da sala, mas é claro que daria merda.

A brincadeira de luta parecia mais com duas marmotas se pegando de maneira desajeitada, quem não conhecesse ligaria na hora pros bombeiros alegando ataque epilético duplo, ou para um padre para fazer o exorcismo. Essa embolada ia de um lado para outro, trombando em todos os móveis, sofá e pessoas ali presente, antes que pudéssemos impedir, escutamos um barulho estrondoso de vidro se despedaçando.

Olho atônito para a porta da qual tinham 3 partições de vidro, e na partição do meio vejo a imagem de um dos amigos parcialmente encaixado na porta, com a bunda completamente dentro do vidro, como se a bunda estivesse do lado de fora da casa e o corpo pro lado de dentro, a curvatura da quebra do vidro ficou tão perfeita que parecia que ele tinha nascido pra fazer parte da porta.

Ajudamos ele a sair do buraco (literalmente), verificamos o estado de saúde e ele não havia se cortado. Ficamos todos parados, em silêncio olhando para o vidro, enquanto o dono da casa passava a mão na cabeça.

O estômago começava a roncar, afinal já tinham passado algumas horas desde que chegamos. Pensamos no que fazer, e não tinha outra alternativa…

teríamos que utilizar todo o dinheiro dos alimentos afim de reparar os danos causados a porta…

Como não tínhamos alternativa, o negócio era procurar por um vidraceiro para tentar consertar o vidro em tempo récorde e nos livrar daquela situação. Imagina que merda seria explicar aquilo para os pais? “matamos aula pra jogar video game e um dos nossos amigos quebrou o vidro com a bunda.”, jamais.

O trabalho tinha que ser perfeito, Afinal, tinha que ficar com a mesma forma e textura do vidro original, para ninguém perceber a falha e consequentemente a descoberta da farsa.

Peguei minha bicicleta e comecei a percorrer o bairro. Onde raios eu encontraria uma vidraçaria? Depois de encontrar duas fechadas e percorrer mais quilômetros rodados que o meu ex-Logus 93, encontrei uma vidraçaria aberta!!! Combinei o local e endereço, o vidro ficaria em 35 reais.

suando bicas, com fome, cansado, e andando como um nômade no deserto (só não estava em um estado pior que o do “dia de bosta” relatado em outra história), eu chego com a notícia. Contando as moedas da geladeira de sua casa, um de nossos amigos conseguiu completar o dinheiro restante, bastava apenas aguardar a chegada do vidraceiro e tudo se resolveria.

O serviço foi efetuado com bastante rapidez, Vidro terminado! tinha ficado perfeito, mesmo com uma fome gritante, estávamos aliviados sobre o resultado do trabalho. Foi um sufoco e tanto. Mas…

Só não contávamos com nossa vasta expertise em vidros, que a massa que segura o vidro demora alguns dias pra secar, descobrimos também que não adianta ficar parado em pé em frente a porta por duas horas com uma secadora de cabelo no nível máximo, torcendo para que secasse, não, ela não seca. Em alguns momentos a secadora deu algumas falhadas, mas suportou até o fim da operação.

Engraçado como são os medos, afinal era só um vidro e apenas um dia de aula, qual era o grande crime nisso? em nossas cabeças seria inadmissível nossos pais saberem de tal situação pois isso geraria cortes de coisas de suma importância na vida: mesada e video games.

Apesar do nosso dia ter sido um completo drama, ficaram boas memórias na lembrança.

Meu amigo dono da casa disse que ouviu alguns dias depois, o seu pai cochichar para sua mãe: “Olha só que estranho amor, a massa do vidro está mole!”, até hoje o mistério persiste.

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